quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Ao abrir nosso coração, abrimos para tudo, porque no fim tudo valeu.
O mundo em que vivemos, talvez seja um mundo de aparências. A espuma de uma realidade mais profunda que escapa ao tempo, ao espaço, a nossos sentidos e a nosso entendimento. Mas, nosso mundo da separação, da disperção, da finitude, significa também o mundo da atração, do reencontro, da exaltação. E estamos plenamente imersos nesse mundo que é o de nossos sentimentos, felicidades e amores. Não experimenta-lo, é evitar o sentimento, mas também não haverá o gozo. Quanto mais estamos aptos a felicidade, mais nos aproximamos da infelicidade…

“A infelicidade caminha lado a lado com a felicidade, a felicidade dorme ao pé da infelicidade.”

Clarice Lispector
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O Verme e a Estrela
Adriana Calcanhotto
Composição: Cid Campos / Pedro Kilkerry

Agora sabes que sou verme
Agora, sei da tua luz.
Se não notei minha epiderme...
E, nunca estrela eu te supus.
Mas, se cantar pudesse um verme
Eu cantaria a tua luz!
E eras assim... Por que não deste
Um raio, brando, ao teu viver?
Não te lembrava. Azul-celeste
O céu, talvez, não pode ser...
Mas, ora! Enfim, por que não deste
Somente um raio ao teu viver?
Olho e não vejo a tua luz!
Vamos que sou, talvez, um verme...
Estrela nunca eu te supus!
Olho, examino-me a epiderme...
Ceguei! ceguei da tua luz?

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008



A DOR QUE DÓI MAIS


Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade. Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.


(Martha Medeiros)

sábado, 20 de dezembro de 2008

E com o jeito mais sem jeito:
- Espero que você entenda.
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Vivia tranquilamente
Com esperança singela
Tudo corria bem
A beleza era amiga dela

Mas um dia sem querer
Encontrou um belo rapaz
Parecia ter sido um encontro preparado
Desses presentes que a vida
Nos oferece com se fossem planejados

Tudo havia em comum
Sorriso estampado no rosto
Brincadeira de alegria
Um destino entrelaçado
Pelas doces coincidências da vida

Mas se sabe que quem ama
De vez em quando questiona
Será que a amo tanto?
Para passarmos a vida juntos

Seu olhar o traiu em um momento cruel
E foi buscar outras venturas
Desprezando aquele amor fiel

Ela não quis acreditar que o castelo desmoronara
Mas via dia a dia o olhar dele se afastar
Tão longe que chegou um tempo
Em que ela não mais pôde alcançar

Ele estava longe
Agarrado a lábios que nunca quis beijar
Só pela fria curiosidade
Que o novo chega a despertar

Ela também se perderia
Em braços que nunca quis abraçar
Mas teria que seguir a vida
Então tentou a outro aceitar.

E se ele arrependera?
Isso resta saber...
Mas no peito de um
O outro vive a sofrer

Seus destinos ninguém sabe
Se perderam na vida a toa
Poderiam ter vivido um do lado do outro
Mas a dúvida impregnou suas almas de amargura e desconsolo.

(Herbenia Freitas)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008


"You were like a cloud, yes you are a flower, then you were a lime, now our love is sour."
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Uma névoa de tristeza
Uma mágoa de saudade
Um sorriso sem beleza
E um choro sem vontade

Minha alma chora a queixa do abandono a dois
A solidão dos outros é o que pesa sobre nós
Você me beija e logo após
Desola um olhar distante
Como se estivesse questionando
A sorte daquela escolha

Sabe, a escolha foi tua.
Mas questioná-la é ímpeto dos mortais
Como se o mundo nos levasse para onde não quiséssemos
E depois amargurássemos nossa fraqueza em aceitar

Se essa moça não te agrada
E não é bem o que esperavas
O que esperas pra deixá-la?
Talvez outro venha consolá-la

Se não vier... O que importas?
Não te preocupes com a sorte dela
Ela terá o conforto nobre
Das lembranças do que viveram

Se uma outra te tocar
Com ternura igual à dela
Não demonstres comoção
Pela lembrança que tiveres
Fuja dessa lembrança
Como a água escoa no mar

Tu foste barco à deriva
Que nunca quis aportar
Se vires em noite serena
Uma vela em pleno mar

Saibas,
É a esperança dela em ter-te de volta ao lar
Não fujas dos teus sonhos
Nem sofra com causas perdidas
É sofrimento inútil
Que sucumbe e só aprofunda as feridas.

(Herbenia Freitas)